Bruxa

Gabriele.
1 min readSep 3, 2021

Te deixei beber do meu copo e você
nem água me ofereceu
li hoje um texto atribuído a Frida, se foi ela quem escreveu eu não sei, que diz que quando tiver que pedir, não quer mais
e eu pedi tanto porque dei muito
nunca foi uma troca
não tem o que curar porque restou tão pouco
quase nada
te dei uma tese de presente
você não me deu
me esvaziei tanto que nem sei por onde começar a ser eu
e tenho medo de te trombar nas ciclovias dessa cidade, na barraca do côco verde
as vezes imagino você passar pedalando por mim, eu chuto sua bicicleta e você entra embaixo de um ônibus
porque dentro de mim
você é um cadáver fresco
a pele morna
o sangue ainda vermelho vivo
e eu choro e bato três vezes na madeira
apesar de tudo sou incapaz de te desejar mal
só um pouquinho
um tropeço de chinelo na calçada e o tampo do dedão cair
nada demais
pra você gritar "bruxa!"
e lembrar de mim
porque apesar de tudo, gosto de pensar que mesmo no ódio,

eu não vou sair da sua cabeça.

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