Mórbida

Gabriele.
2 min readSep 3, 2021

Tenho sonhado muito, longas metragens que ocupam minhas noites
hora sou personagem principal, hora mera figurante,
mas os meus preferidos são os que observo tudo como se meus olhos fossem lentes de uma câmera cinematográfica em uma grande produção audiovisual.
Essa noite sonhei com uma zebra grávida. Nem Jung explica.
Talvez jogue no bicho, quem sabe… tem um velho na 13 de maio vendendo bilhetes de aposta que grita ‘quem quer ficar rico…’ e eu me pergunto, quem não quer? Pra ser sincera, eu não sei se quero.
Acho que preciso fazer terapia.
As vezes me sinto sendo levada pela correnteza dos dias, torcendo em silêncio para que nada me atravesse como naqueles filmes sobre tsunami que pessoas vivem dias em agonia com uma barra de ferro transpassada pela clavícula sem uma alma viva para socorrer.
Que horror.
Queria saber falar sobre amenidades.
Minhas plantas estão morrendo e meus gatos me odeiam cada dia mais. Dizem que os animais têm a característica de seus donos, e às vezes os meus são insuportáveis.
Será que em outra vida eu fui uma pessoa tão ruim assim? Se karma existe eu to fudida pelas próximas 12 encarnações:
haja banho de erva e defumação.
As vezes gosto de imaginar que sou uma mulher de 3 metros de altura, uma árvore madre de copa frondosa e raiz profunda
que faço parte de algo maior como um ecossistema ancestral e que meus frutos alimentarão as próximas gerações… que bobagem.
No final das contas a terra há de me comer
meus gatos a princípio sentirão minha falta pois só eu compro a ração que eles gostam, depois se acostumarão com seus novos lares e eu terei ficado em suas terceiras, quartas vidas
e em pouco tempo as pessoas só sentirão minha falta uma vez por ano, ou duas - no meu aniversário e no aniversário de morte - até não fazer mais sentido essa comemoração fúnebre.
É, preciso rever minha morbidez;
preciso fazer terapia.

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