No corpo da boneca

Gabriele.
1 min readJul 9, 2021

O que eram símbolos de natureza instintiva, na cultura permeada por um cristo que não veio as bonecas se tornam um símbolo de feminilidade compulsória, um treino para a maternidade como razão da existência: Se antes instigava a mudança e crescimento espiritual, agora perpetua uma cultura opressora dos corpos com vulva.

Antes Homunculus, agora Baby’s alive’s, que choram, come, cagam e condicionam. Contam, rindo, do dia que a sobrinha socava sua boneca que não a deixava dormir. Me lembro ainda criança, jogar minhas bonecas no chão sem piedade para dormirem. Muitos risos. A força se torna ódio, o culto se transforma em desconexão. A linha tênue entre a maternidade e a prisão. Mães encarceradas, seus filhos seus carcereiros, ao longo dos anos os papéis se invertem. Na lógica de quem prende quem, na recusa de ser presidiário, nascem os asilos. Terceirizar o cuidado, confiar o carinho a outro. Egoísmo? Não julgo já julgando, no final das contas somos a maior das prisões.

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